Além da falta de lixeiras e varrição limitada, mau hábito da população, que insiste em jogar materiais diversos nas ruas, é a principal causa da sujeira diária da capital.
Paula Sarapu - Valquiria Lopes - Publicação: 22/09/2011 06:00 Atualização: 22/09/2011 10:06
No 5º dia, sujeira quase enchia o lixômetro na parte da tarde.
O planejamento da cidade pelo engenheiro Aarão Reis no fim do século 19, concentrado no perímetro da Avenida do Contorno, se repete 114 anos depois da inauguração de Belo Horizonte. Dentro deste limite, a varrição é diária. Nos bairros residenciais que cresceram em volta, porém, as vassouras passam só uma vez por semana. Levando-se em conta a área total da cidade, há uma média de sete garis por quilômetro quadrado. E com um gari para cada grupo de 940 habitantes, a sensação de muitos moradores é de que o serviço de varrição das ruas não dá vazão. Os (maus) hábitos da população, claro, estão diretamente ligados à sujeira espalhada pela capital, mas especialistas dizem que a população vive uma cultura de relaxamento e que nem a ampliação do número de garis nas ruas será suficiente se os belo-horizontinos não fizerem sua parte e jogarem o lixo nas lixeiras.
Moradores da Zona Sul de BH ignoram horário da coleta de lixo
A Superintendência de Limpeza Urbanza (SLU) instalou o “lixômetro” na Praça Sete, onde acumula resíduos diários para conscientizar a população sobre a importância de manter a cidade limpa.
“As cidades são sujas no Brasil como um todo. Não é um privilégio de Belo Horizonte. A taxa de limpeza pública não é suficiente para cobrir os gastos, faltam lixeiras nas ruas. É preciso rever o fluxo de varrição em algumas áreas que se desenvolveram, mas os moradores não percebem a cidade como um bem deles. Percebem uma área de uso comum, sob a qual não querem ter a menor responsabilidade. Pelo que percebo como cidadão, parece que Belo Horizonte não é da gente. Vivemos numa cultura de relaxamento, de falta de senso, que não se resolve colocando gente para limpar. É preciso um trabalho maior de conscientização de todos”, afirma o professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG Raphael Tobias de Barros.
A sujeira a qualquer hora do dia e durante toda a semana é denunciada pelo auditor trabalhista Flaviano Marinho de Souza, de 25 anos, que trabalha no Bairro Funcionários, no Centro-Sul. Segundo ele, são tantos sacos de lixo amontoados ao lado de postes, árvores e portas de estabelecimentos que chega a ser preciso desviar para não se sujar. “Falta mais respeito com a cidade. A maior parte das pessoas não se sente dona da cidade e desrespeita os bons hábitos em relação ao descarte do lixo. Isso traz um impacto negativo grande para BH, tanto do aspecto visual quanto ambiental”, afirma.
Revisão do planejamento
Belo Horizonte se assemelha a Fortaleza (CE) em área territorial e número de habitantes. A cidade litorânea aponta a produção de lixo como um de seus problemas, por outro lado tem mais garis nas ruas. De acordo com a Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização da capital cearense, 3 mil garis são responsáveis pela varrição e coleta domiciliar de 5 mil toneladas de resíduos. Neste destino, há um gari para cada 815 habitantes e nove profissionais de limpeza por quilômetro quadrado.
A SLU de BH diz que a cidade é bem atendida e que o número de garis também é satisfatório, mas admite que está fazendo novo planejamento para a distribuição de cestos coletores e a frequência de varrição em localidades à margem da Contorno. Segundo o diretor de Planejamento do órgão, Lucas Paulo Gariglio, mesmo longe do coração da cidade, a varrição ocorre de duas a três vezes por semana em grandes corredores e centros comerciais, como no Barreiro, mas o rápido desenvolvimento de alguns bairros exige a revisão no planejamento. “Atendemos a cidade até onde é possível atender. Fazemos um cálculo em função da produtividade, com base nossa experiência do dia a dia, de que um gari consegue varrer de dois a dois quilômetros e meio. BH é uma cidade com restrições, ruas muito íngremes e algumas com falta de pavimentação, mas dividimos a cidade em áreas e universalizamos o serviço. Outras cidades privilegiam as áreas mais nobres em detrimento da periferia, mas aqui fazemos o mesmo trabalho para a cidade toda”, argumenta ele.
Como o Estado de Minas noticiou em julho, o plano de distribuição das lixeiras é de 2005. Desde então, não houve ampliação do serviço, apenas reposição de cestos depredados. BH tem 10.500 lixeiras, mas cerca de 2 mil estão inutilizadas por vandalismo ou depredação. A maioria dos cestos coletores – 4.200 – está instalada no hipercentro, área comercial com fluxo intenso de pessoas e importante corredor viário. Esta região é varrida quatro vezes por dia. De acordo com a SLU, o município vai comprar mais 10 mil cestos coletores para espalhar em ruas antes não contempladas e pontos de ônibus. O edital deverá ser divulgado no dia 30 de setembro.
Em 2008, o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) fez pesquisa com turistas. Eles indicaram a sujeira como um dos principais problemas da cidade. No diagnóstico, esse quesito ocupou a quarta colocação no ranking do que mais desagradava os visitantes, atrás de trânsito, violência e falta de segurança.
Análise da Notícia
"Enxugando gelo"
Por: Paulo Nogueira
Haja lixeira, haja coleta! Se a população não colaborar, não adianta o poder público, que também deixa a desejar, ficar eternamente enxugando gelo. O problema da sujeira nas ruas, avenidas e praças de BH é tão grave que parte de ações inconscientes das pessoas. É comum ver as pessoas jogarem “sem ver”, digamos assim, guimbas de cigarros e papel de balas e picolés pelas janelas dos carros ou nas calçadas como se fosse um comportamento normal. Trata-se, na realidade, de total falta de educação e cidadania, que deveria começar dentro de casa e na escola. Questionada, uma senhora rebateu num dias desses: “Jogo na rua mesmo porque pago impostos”. Então tá...